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Política

Rompam-se as Tradições

November 23, 2015

Por Diogo Cunha Martins

 

Créditos Imagem: Lia Ferreira.

 

 

Estávamos aos 23 dias de Outubro, onde o Outono não conseguia decidir entre estar a chover à bruta ou calor e sol como se fosse verão, mas dentro da Assembleia da Republica, no meio dos disparates políticos típicos de países de terceiro mundo, como é o caso de Portugal, um deputado atípico tomava posse.

Pela primeira vez na história temos uma pessoa com deficiência como deputado, não sendo em si um detalhe marcante para o desempenho da função, é um detalhe importante para afirmar a evolução social necessária para isto acontecer. A abertura a que alguém não seja posto de parte porque meramente tem uma diferença é um passo enorme na direcção certa.

Mas voltemos ligeiramente atrás na história.

Um dia, numa tarde assim para o quente, o Jorge diz-me que foi convidado para ser deputado, fiquei incrédulo, acho que tanto quanto ele mesmo, embora não lhe tivesse visto a cara naquela altura. Já tínhamos inúmeras vezes falado na possibilidade da existência de deputados com deficiência, até mesmo num partido com pessoas com deficiência, a par do que já ocorre noutros países, onde isso foi usado como forma de colocar a questão na ordem do dia e em instâncias mais elevadas, mas sempre batemos na mesma questão, a sociedade ainda não estava madura o suficiente para tal cenário. Adivinhem?! Erro nosso!

Afinal a sociedade estava madura o suficiente para isso, não só para ter um candidato como para o eleger, mas já lá vamos. Até ao dia 4 de Outubro de 2015 estávamos entre duas posições: a de que acreditávamos ser possível e a de que não iria ser possível o Jorge ser eleito.
Naquele dia fatídico, em que uma coligação mal amanhada ganhou as eleições, em percentagem, estava eu e o Rui Machado, via Facebook, atentos aos resultados eleitorais, com aquela ansiedade de saber se afinal de contas tínhamos ou não deputado. À medida que a noite avançava, e o site com os resultados era actualizado, íamos ganhando confiança, confiança de que se iria fazer história em Portugal.

Até que… Confirmou-se! Jorge Falcato tinha sido eleito para deputado. Houve um momento de explosão de entusiasmo, um telefonema a dar os parabéns, onde não se disse nada de jeito - para que conste - e depois começamos, eu e o Rui Machado, com as questões essenciais: e agora? Vamos ter obras na assembleia? Vamos ver deputados de outras bancadas a mandar bocas de baixo nível? Entre outras questões de extrema importância, como a qualidade do comer.

Há duas questões que se levantam:

A primeira está relacionada com a evolução social para chegarmos a este ponto, não só ocorreu como foi importante este enorme passo na direcção certa. Agora há uma pessoa que sente o mesmo que nós, que sabe o que é ter uma deficiência e ser penalizado por isso, é uma oportunidade de se colocar assuntos de extrema importância para as pessoas com deficiência no lugar certo, com a pessoa certa.

A segunda é pessoal, é o ver um amigo que estimo muito a chegar a um lugar de relevância, por mérito, por acreditar em ideais - dos quais partilho - e por querer que todos nós, Portugueses, tenhamos uma vida melhor. Bom, e a bem da verdade, finalmente um deputado em que posso acreditar, já que nos outros… é difícil.

Naquele dia 23 de Outubro a comunicação social dava destaque à eleição do presidente da assembleia da republica, que rompera com uma suposta tradição que só dá jeito às vezes, mas o destaque estava, para mim, claramente na tomada de posse do Jorge, isso sim foi um marco na história, Portugal tinha evoluído.

No meio das palhaçadas que houve na tomada de posse houve este delicioso detalhe que deve fazer o resto da sociedade estar a postos para continuar a lutar por mais evolução e pelos direitos das pessoas com deficiência.

Dá-lhes com força Jorge!!! O pessoal está cá fora contigo!!


 

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